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Las Actrices Siempre Mienten provoca boas risadas no público recifense

Espetáculo espanhol foi apresentado no Teatro Hermilo Borba Filho, seguido de apresentação de "NOS, Tupi ou Not Tupi?" (França) no Teatro Apolo

As atrizes espanholas Gloria March Chulvi e Cris Celada, do grupo El Pollo Campero | Comidas para Llevar e os bailarinos brasileiros Eduardo “Willow” Hermanson, Rennan Fontoura e Tito Lacerda, da companhia francesa R.A.M.a, definiram o mote do oitavo dia de programação do festival Cena Cumplicidades: o questionamento das condições de trabalho dos intérpretes das artes cênicas no cenário atual e o efeito que têm as dificuldades vividas por eles na sua arte. 

Enquanto Willow, Rennan e Tito põem em pauta a identidade do artista das danças urbanas na sociedade e dentro da própria dança em “NÓS, Tupi or Not Tupi?”, Gloria e Cris falam da contrariedade de trabalhar como atrizes e enquanto mulheres em “Las Actrices Siempre Mienten”. Os espetáculos foram apresentados na noite desta quinta-feira (02) nos teatros Apolo e Hermilo Borba Filho, respectivamente.

Apesar de tratar das particularidades trazidas à tona pelo machismo no ofício de atriz, as situações vividas em cena pelas espanholas do Pollo Campero aborda o ofício de ator e atriz de maneira geral. A obra foi construída com base em experiências vividas pelas próprias ou por colegas de profissão. “Trabalhamos ao redor da ideia da mentira, já que mentir é o que se supõe que nós [atrizes] fazemos. Só que existe uma contradição aí. Se tu mentes em cena, não gostam. Eu gosto de pensar que se fabricam verdades”, contou Chulvi à equipe do Cena Cumplicidades.

Dessa realidade complicada, o público levou algumas risadas, no entanto. Isso porque a peça se propõe a reconstruir cada atividade exercida pelas personagens na busca de uma boa oportunidade de trabalho de atriz, na tentativa de trivializar a prática desse ofício. Assim, elas passam de anfitriãs de festas de solteiro a palhaças, a dubladoras de filmes estrangeiros e a animadoras de festa infantil conforme muda a cena. A ideia é que as atrizes, de maneira geral, estão sempre mentindo, a começar por serem - mesmo que involuntariamente - a imagem de um estereótipo glorioso e intrépido da suas vidas e de seu trabalho. 

Quando não se dirigem ao público diretamente, Cris Celada e Gloria Chulvi se utilizam de um computador espelhado no cenário da peça, um dos elementos que ajuda a acentuar o discurso da obra. Celada diz conseguir enxergar “Las Actrices Siempre Mienten” como uma tragicomédia “porque os temas de que tratamos são bem duros”. 

Ela explica o motivo por trás do tom não tão dramático da montagem: “As coisas sérias ditas de uma forma muito séria não me afetam. Quando me é exposto o que tenho que sentir, não o sinto. Por outro lado, tratar de um diálogo sério tratado por um ponto de vista diferente do que normalmente se tem me chama a atenção como espectadora”. 

Há uma semana em contato com artistas locais e outros bailarinos que participam do Cena Cumplicidades, elas ressaltam a crucialidade da experiência de um festival na geração de novas relações e novos espetáculos. “Não teria nenhum sentido chegar com a nossa história somente, conhecer o teatro e não falar com ninguém. O interessante desses festivais para mim é o cruzamento. É aí onde está a riqueza”, justifica Gloria. E vai além: “Não gosto das coisas puras. Porque não acredito nelas. Não existe o puro. Existe, todo o tempo, o mestiço.”

TEXTO POR GUSTAVO HENRIQUE