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Espetáculo NOS, Tupi or Not Tupi? busca debater a dança no Brasil e no mundo

Obra é uma coreografia - onde há espaço para improvisação - do francês Fabrice Ramalingom, com a colaboração dos brasileiros Eduardo “Willow” Hermanson, Rennan Fontoura e Tito Lacerda

No texto de “NOS, Tupi or Not Tupi?”, os bailarinos levantam ao público questões como “Por que eu sofri tanta pressão familiar por ser dançarino?”, “Existe classe social na dança?” e “Por que a maioria dos artistas da dança urbana vêm de camadas sociais mais pobres?”. O trabalho, que estreou em julho no festival de dança contemporânea Montpellier Danse, é uma coreografia - onde há espaço para improvisação - do francês Fabrice Ramalingom baseada na colaboração com os brasileiros Eduardo “Willow” Hermanson, Rennan Fontoura e Tito Lacerda. 

Apresentado na última quinta-feira (02) no palco do Teatro Apolo, durante a programação do Festival Cena Cumplicidades, “NOS, Tupi” parte do histórico dos brasileiros na dança de rua do hip hop para encontrar a direção de Ramalingom e a sua experiência com dança contemporânea. “[Ramalingom] já tinha o desejo de trabalhar com pessoas do hip hop. E aí o processo se deu mais no encontro, através da direção dele, do jeito como ele pensa, mas partindo da dança que a gente tem”, explicou Willow pouco antes de entrar em cena. 

A conversa entre diretor e bailarinos é somente o primeiro de inúmeros pontos de troca de experiência que aparecem narrativa do espetáculo. Da presença ostensiva desses pontos vem a referência à frase do manifesto antropófago lançado pelos modernistas reunidos em torno de Oswald de Andrade no título. 

Vem também das indagações sobre o que definiria a identidade do brasileiro, ideia recorrente no percurso da peça. O projeto vai de encontro à ideia de que existe singularidade no conceito de “corpo brasileiro”, partindo da negativa de uma identidade brasileira propriamente étnica até chegar à recusa de que esse corpo existe e se expressa dentro da dança. A obra questiona a suposta realidade do “corpo brasileiro” nesse âmbito particular das artes cênicas através da fricção das identidades dos bailarinos.

“É como se ele [o diretor] tivesse devorado o que a gente tem e a gente devorado as informações que ele tem para criar essa composição que apresentamos”, adiciona Rennan Fontoura.

Mais do que a identidade brasileira e o diálogo entre coreógrafo e dançarinos - representado em cena pela ponte indistinguível entre hip hop e dança contemporânea, o espetáculo retrata cada um dos integrantes do elenco e a unidade deles em trio, principalmente. Entre as porções de coreografia, relatos gravados ou contados em cena e projeções de fotos de Willow, Rennan e Tito procuram pelo lugar deles enquanto brasileiros, bailarinos, artistas de dança urbana, e parte integrante de uma tríade em reconstrução.

“NOS, Tupi or Not Tupi” segue para Porto Alegre depois da apresentação no Recife. O Cena Cumplicidades continua nesta sexta-feira (03) com mais quatro espetáculos: “Mundo Ao Redor”, “1/7 do Tempo”, “Gritaram-me / Vogue” e “O Samba do Crioulo Doido”.

TEXTO POR GUSTAVO HENRIQUE,
com contribuição de LETÍCIA BARBOSA