O Samba do Crioulo Doido questiona o racismo e a erotização do negro
Apresentado pela primeira vez em Recife, no Teatro Apolo, espetáculo encerrou a programação da noite desta sexta-feira (03) do Cena Cumplicidades
O samba é considerado uma das principais manifestações populares do Brasil. É um gênero musical que além de animar, pode, ao mesmo tempo, levantar questionamentos sociais. E foi exatamente isso que o público pôde observar e absorver no espetáculo “O Samba do Crioulo Doido”, apresentado pela primeira vez em Recife, no Teatro Apolo, fechando a programação da noite desta sexta-feira (03) do Cena Cumplicidades.
À primeira vista, as cenas podem chocar, propositalmente. Um homem, negro, totalmente nu, aparece ao palco vestindo apenas botas pratas de salto alto e sambando o tempo todo. Movimentos específicos do omoplata, das nádegas e do pênis acabam se destacando em meio à coreografia do samba. Ao fundo, o cenário é composto por várias bandeiras do Brasil. No meio da apresentação, o próprio bailarino se veste com uma bandeira brasileira, com algumas de suas partes rasgadas, para continuar a dança.
A montagem é cheia de questionamentos. Os principais são fazer uma dura crítica ao racismo e como o negro é tratado a partir de elementos estereotipados na nossa cultura (como o próprio ritmo samba e a erotização exacerbada do corpo negro), além de salientar a importância da construção de uma identidade por meio do corpo e suas performances.
A primeira montagem do “Samba do Crioulo Doido” foi realizada em 2004 por Luiz de Abreu, diretor e coreógrafo do projeto. Antes, era ele próprio que performava no palco. Agora, fez uma "transição" dos seus conhecimentos - como mesmo disse - para Pedro Ivo, dançarino atual do espetáculo. Para Abreu, mesmo com 13 anos de realização, o projeto continua bastante atual. “No momento político que estamos vivendo, o Samba do Crioulo Doido continua atual. Eu diria até que ele é ‘pós atual’. Ele fala de um ciclo, em relação a questões sociais e políticas, que segue, mas acaba sempre regredindo. E, então, voltamos para a tal ‘ordem e progresso” que mais parece uma ordem e progresso do século XIX”, comenta Abreu.
O Samba do Crioulo Doido será apresentado novamente neste sábado (04), às 20h, no Teatro Apolo. A partir das 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho, a programação do Cena Cumplicidades dá espaço à peça “Alguém Pra Fugir Comigo”.
TEXTO POR ANA CARLA SANTIAGO